D’05

Antes de começar, e para que não restem dúvidas, digo: ‘Dogma 2005’ é um dogma, não é um manifesto. ‘Dogma 2005’ não pretende rasgar, romper, destruir ou superar. Já nada há que mereça o esforço de ser rasgado, rompido, superado ou destruído. ‘Dogma 2005’ pretende, apenas, existir. Antes de começar, e para que não restem dúvidas, digo: ‘Dogma 2005’ é um dogma, cujo título, confiscado sem autorização ao “cinema dinamarquês da câmara ao ombro”, não é mais do que isso: um título. ‘Dogma 2005’ chama-se ‘Dogma 2005’ porque é um dogma e porque é de 2005. Dez anos depois do outro, ‘Dogma 2005’ aparece e diz: abaixo as efemérides contemporâneas, abaixo os clássicos contemporâneos, abaixo o repertório contemporâneo, abaixo a tentativa anacrónica de superação doentia da crise da contemporaneidade. Hoje, 16 de Novembro de 2005, ‘Dogma 2005’ nasce para dizer: vivam os cépticos pós-modernos! Hoje, 16 de Novembro de 2005, ‘Dogma 2005’ nasce para ser igual a si próprio: um dogma que nasce em 2005, dez anos depois do outro. ‘Dogma 2005’ não quer ser igual ao Lars Von Trier quando for grande. ‘Dogma 2005’ quer ser grande quando for grande. ‘Dogma 2005’ não nasce para salvar. ‘Dogma 2005’ nasce para acabar de vez com os moribundos instituídos que ainda respiram. Mas ‘Dogma 2005’ não é da morte. ‘Dogma 2005’ é da vida. É uma alternativa de vida. Uma vida que não se deixa invadir pelo fétido cheiro dos moribundos instituídos que ainda respiram. Uma vida que não quer acreditar em nada, a não ser nela própria. Uma vida que se alimenta de si própria; que implode de cada vez que surge; que morre, para de novo nascer. Uma vida que nada tem de importante para discorrer sobre, a não ser a exegese inerente à sua própria condição existencial. Uma vida que não acredita noutros dogmas a não ser naquele que a sustenta a partir da base. Uma vida cepticamente vivida. Uma vida desacreditada. Uma vida morrida. Hoje, 16 de Novembro de 2005, ‘Dogma 2005’ nasce e diz: “A arte acabou, mas não morreu!”: existe ainda o nome. Por isso, olhemos para ele:

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Se já não podemos mais levar a História por diante, juntemo-nos a ela. Morramos com ela! ‘Dogma 2005’ admite a presença dos cadáveres instituídos, mas não admite a sua força. Hoje, 16 de Novembro de 2005, ‘Dogma 2005’ nasce para dizer: “Pai Nosso – Século XX –, perdoai-os!, que eles sabem o que fazem!”.

Em nome do ‘Dogma 2005’:

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[ Rogério Nuno Costa ]

Lisboa, 16 de Novembro de 2005